domingo, 31 de outubro de 2010
barulhinho no escuro
quero poesia estranho corredor escuro
que corre em veias mortas de tanta vida
vez em quando um potente som abafado
pinta de paixão as cores de uma poesia
caminhar nesses corredores
faz cócegas nas almas dos homens mortos
derruba suas paredes de ferro medo hesitação
vamos gritar para todos os pássaros
os desejos lascivos mais humanos possíveis
no ritmo extasiante de todos os corações
tambores desses tempos mais findos que vindos
que se libertem em glória
todas as solidões que mentem caladas
as dores desses mundos farfalhando em chamas
poesia é gozo ambicioso querendo respirar
abre portas janelas telhados cabeças corpos e paisagens
até que neles,
more a mais rasgada fonte sensitiva
presente no mais simples encontro explosão
lágrima que se arrebenta no chão
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
terça-feira, 26 de outubro de 2010
um nó, ou vários
me chame de qualquer coisa
meu nome hoje é o mundo
talvez eu seja de fato
o sempre o tudo e o nada
ou talvez eu seja apenas um não
só não me venha com sins
pois hoje quero me obrigar ao novo
abrir as pernas dos nãos
e procriar idéias de subsolo em atmosferas ferozes
só os nãos podem germinar o novo
quero criar quero poder quero inventar
o nunca inventado já é ultrapassado
o impossível faz tempo mora em meu coração
o que eu quero
está brincando com o impensável
não o sinto nem o falo
não está em minha imaginação
o que eu quero não é o bastante
e isso já é o bastante
mas já está perecendo
algo está por vir
abram as portas e venham ver
o que mora aqui
não está mais em ninguém
o que mora aqui
é verbo imperfeito deixando de ser passado
o que mora aqui
não está mais em casa
mas há alguns nós
quando cheguei não havia mais ninguém
só uma janela aberta
e o vento
em nós
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
acaso
hoje vou beber descaso
construir pontes ociosas
e admirá-las de longe
ninguém vai cruzar nada
ela estará lá como obra
des-casual
eu
des-calço
meus pés regem
orquestras de pensamentos, nuvens e roupas no chão
conforme passo, fico
se fico, me banho
com os pés brincando de tecer destinos
sou mais vivo
nossas mãos agem demais
forjam seguranças pensadas
esquecem de escapar
os pés simplesmente esquecem
e nas pontes paradas
são o próprio caminho inventado
vez em quando, pulado
voos infinitos
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
poesia cuspe
um pé descalço no chute do destino
e o mundo nunca mais será o mesmo
duas alavancas tortas feitas de vontades mortas
e a vida sempre será uma icógnita
ah, mas eu não falo de mim
falo de você e do mundo e do absurdo
sempre que reparo no som da tv desligada
corro rápido pro quarto
abro um livro, cuspo lá dentro e fecho
o último eu joguei pela janela
e matei duas pessoas mortas
tenho essa vocação a coveiro pentelho
desde que meu coração matou Poe
não consigo deixar os mortos em paz
buscaram meu cuspe nas esquinas mais insuspeitas
e o que acharam foram livros já mofados
com cheiro de fruta podre mordida
fui eu quem mordi
e desde então, o mundo nunca mais saiu de mim
fica aqui grudado lapidando meus sonhos
com energia eólica dos deuses
com duas pedradas na pele grossa do impossível
engravidei as virgens de mim mesmo
agora meus filhos dançam em torpor
nas filas imaginárias dos ônibus nossos de cada dia
são contraventores hábeis,
cospem sempre pra cima
nunca viram nada de grave
na laminação ativa da gravidade
os cuspes dos meus filhos já alcançam o teto
e eu me sinto lá
estalactite viva
soprando doces terrorismos poéticos
nas orelhas pretas de brita
que tanto pisamos tateando futuros
as poesias
coçam nossas dúvidas jogadas e anestesiadas na sarjeta
depois saem
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
tão simples
uma demanda esquizo bagunça meus cabelos
chuto o ar com algumas invenções silenciosas:
minha barba anseia em coçar o pescoço do mundo em um abraço;
grito sempre que vejo fogo, talvez minha voz queira se queimar;
o calor de um amargo café em meu estômago pede para não ser digerido;
talvez meus pés ainda parem de esticar amores aos barros a às lamas e se tornem firmes, talvez não;
as gavetas da minha memória estão tão abertas, que se esqueceram se são gavetas mesmo, ou se é só imaginação;
meus poros se uniram em gemidos coletivos múltiplos: pêlos;
alguns amores atravessaram meus corações e foram morar em meus olhos: lágrimas;
quando criança, cresci até não caber mais em mim, aí nadei no ar com asas;
hoje, se olho pro lado, não sou mais eu, e se me olham, sou o outro;
talvez um dia eu volte pra casa, ou talvez me reinvente até que esta, possa enfim, morar em mim.
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