arrastam os céus ad aeternum no inferno dos dias
dias e dias
e o asfalto quente evapora ratos pelos bueiros
caminhos se confundem
as cabeças da urbe estão caducas
cabelos grisalhos almejam a calvície inocente
dos recém-nascidos
do cabelo que não é meu, só vislumbro fantasias
há falta de roupas no cabedal do silêncio
há cheiro de comida putrefata nas sarjetas
há um temor desconhecido arrastando inertes corpos de uma porta à outra
uma luta dos músculos se irrompe nas veias dos prédios
ninguém nunca entendeu os argumentos do cinza no abstrato:
névoa de concreto pelas manhãs
os juízes interromperam a luta
penduraram as chuteiras
nas nuvens que anoiteciam de cinza
o verde daquela tarde
e foram embora
eternizando o cinza
em uma burocrática lápide de cimento
mas mesmo assim
as crianças insurgem lucidez na esquizofrenia dos dias
seus passos sorriem no gramado,
sorriem a limpidez dos timbres da despretensão
seus castelos invisíveis beijam, libertários,
o futuro escondido sob as asas do tempo
o pôr-do-sol vibrará vento nos cabelos
já consigo sorrir
infantil
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