I
as mordidas
cingidas no bordear
vertiginoso
do papel em branco
e suas delongas hesitantes
II
as veias
empertigadas de suor
irrigam agridoces espasmos
em solo estrangeiro:
a folha em branco é um abismo
III
a caneta é uma entidade cítrica
suas sinuosidades sísmicas
dançam violências inventadas
e no papel
datilografias incorpóreas
se decantam
em pólen tinteiro
IV
faltarão mãos
para tantos olhos
os dedos se desfocam
no firmamento
o papel é fonte descontínua
de palavras
clamando por deformidades
V
toda voz
na sorumbática transa
da madrugada
é um blues
VI
da cidade que tudo vê,
a fumaça do incenso no quarto
é o monólogo cítrico
da caneta
no tremor dos dedos
VII
só se escreve
o que se treme
há terremoto o suficiente
na lâmpada queimada
VIII
boa noite
também quer dizer
boa viagem
os pássaros nunca dormem
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