todo dia é dia
quão inacreditável é a fome que dá
quando o eterno se traveste de comparsa
e nos tornamos juntos, ladrões do absurdo
roubamos até a voz rouca
dos muros que sangram cinzentos
nessas cidades que com gozo, tanto deliramos
todo dia é dia, certo?
durmo sempre boquiabertonão escapo incólume deles
dentição inteira de braços abertos às verdades ocultas
os dentes não mentem nunca
o que a vida adestra,
eles mordem até a morte
mordidas endemoniadas
durante o sono,
os dentes são legiões vorazes transbordando sangue nos olhos
desbravando asfaltos rotos, pântanos tolos, pastos de homens cegos e nus
mordidas endemoniadas
rasgam toda essa merda de servidão consentida
minhas paisagens
nunca mais foram as mesmas
sinto nas gengivas
o suor da árdua labuta noturna
escorro junto
soturno
todo dia
é dia
todo dia
é dia
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