há qualquer coisa de sagrado
nessa minúcia escorrida
da poesia deixada no chão
ao lado da cama
essa poesia
não precisa ser lida
coloco um bom som
há anéis de saturno
contornando minhas vísceras,
cada uma com suas sutilezas íntimas
estômago, intestino, pâncreas, rins
a pele e os pelos
viscerais
tudo víscera
víscera nos olhos
víscera no suor-liame-corpo-lençol- colchão
víscera nas paredes do quarto
paredes do quarto:
compositoras ágeis desse meu segredo vegetal
devemos seguir atentos
o segredo vegetal está impresso na carne
e ninguém nunca vai se desvencilhar disso
os anéis de saturno das minhas vísceras
escorrem pulsáteis poesias
no livro que ora repousa fechado
no chão
no canto da cama
jamais abrirei este livro
coloco um bom som
tiro a camisa
os anéis de saturno começam a se acoplar por aí
encontro divindades adormecidas
os sóis já emanam alma em meu estômago
identidades se distorcem,
a atmosfera toda
é uma carne
a atmosfera é uma carne
a
atmosfera
é
uma
carne