terça-feira, 30 de agosto de 2011

só pra constar


ocorreu hoje
nas varandas da criança que mora em meus pés
uma
capacitação de orquídeas para devir sorrisos

caminhante errante à deriva
suando
eu
ando

terça-feira, 23 de agosto de 2011

há um muro branco em minha frente


há um muro branco em minha frente
mas meus olhos estão turvos, não podem apalpá-lo
há um muro branco em minha frente
mas tiraram de mim meus pincéis, e nem sequer me perguntaram
há um muro branco em minha frente
mas acorrentaram meus pés em um muro mental-penitenciário
há um muro branco em minha frente
e a muralha cotidiana insiste em privar de me borrar em cores nele
há um muro branco em minha frente
logo eu, que já quebrei tantos muros
há um muro branco em minha frente
e há no peito um canto oco, gritando inaudível por desmonte
há um muro branco em minha frente
e meus versos são tudo o que me resta
há um muro branco em minha frente
e já não sei mais, logo eu, que sempre quis ser tão colorido

domingo, 14 de agosto de 2011

é simples assim


um transeunte multi cor me aborda no abstrato

digo inocente: "oi."

começa então a chover sensações atemporais
e não tínhamos guarda-chuvas
mas a vida é assim, se enxarca nas linhas do excesso,
depois torce tudo e respinga no chão memórias táteis

e ele continuava ali calado, me olhando
todo colorido

quando o chão enfim se alaga, nos conectamos
debaixo da água é livre transmissão de atos, fatos e afetos
dá choque mesmo né?
existimos submersos, sem eira nem beira, tudo que vai, volta,
coisa de imanência, transborda feitos liquefeitos e exagera vida

um processo de fusão se inicia

a princípio
parecia ser muito duro tal processo, nunca havia me fundido assim
muito menos com um desconhecido
menos ainda no abstrato

as cores foram se agitando
começaram a se indiferenciar em rito catártico
bacanal de cores carinhosas se acariciando
meu corpo se contorcia todo, absurdamente imóvel
e em certo momento não havia corpo nem cor
restou apenas um encanto amorfo, uma massa, A massa

tudo aconteceu muito rápido
e quando dei por mim, me deparei com o óbvio
pude escutar minha voz, me respondendo:
"oi."

sábado, 6 de agosto de 2011

lua crescente


olhe só
a janela entreaberta e sua pequena fresta divagando som
talvez eu vá até lá e dialogue calado, de lado,
como quem se surpreende no espelho
reflexo de vento dá nó na goteira do pensamento

se timbrar diálogo,
a gente voa

nas entranhas da janela, há asas

alto céu
a gente lá
e a lua sorrindo