sábado, 27 de junho de 2009

infinito


passou a vida
tentando temperar cores,
hoje, só usa limão,
o ácido as exalta.

buscou hedonistas
no asfalto, no mato, no quarto,
sempre respondiam:

- converse com a pele, hable con ella...

seguiu o conselho,
e descobriu
uma pele prolixa

- cale-se!

ela calou,
mas aí seu pau
em protesto,
ficou duro pra sempre.

concluiu que pele
não se deve reprimir,
há que se ter equilíbrio.

deixou-a falar,
agora são amigos
a pele e o pau

hoje,
ao abraçar Dionísio,
escuta dele:

- noites há que serem
sincopadas
em ritmo de pele.


somou então:
poros (também conhecidos como bocas)
limão
cores
tequila
lubrificação vaginal

e o resultado foi 8
deitado.

terça-feira, 23 de junho de 2009

droga


aquela coceira na cabeça
não passava.


desconfiei que fosse um piolho.

dia desses o encontrei
coloquei-o em minha mão
e falei:

espera o sangue de depois do almoço,
comerei duas garfadas a mais por você brother.


devolvi-o a sua residência
na região da nuca,
próxima a orelha esquerda.

depois do almoço
senti uma pontada naquele local.

era o piolho

chupou tanto
que caiu na corrente sanguinea,
deu umas boas gargalhadas com isso
parecia tobogã.

e eu me coçando todo

por dentro

até que encontrou nova moradia
agora vive em meu único rim
e ao invés de tomar sangue,
fuma pedra.

e eu aqui,

mijando fumaça.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

estética


na estética poética
não há ética

ora, pois

ética, esticada,
é estética

hermenêutica da ética
é hermética.

toda poesia,
antitética.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

parto


arranquei os pés
afim de enxergar com as mãos
meu intestino se soltou
e não tenho cotonetes
meu par de botas não serve mais
engordei
toda aquela barba
e eu sem cueca
fiquei embaraçado
tive que raspar, na zero
assoei e não saiu nada
estava mesmo careca.

pronto, agora só tenho um orifício
meu umbigo, uma cloaca

o universo me penetrou
gozei


pari eu próprio
tudo não passava de um corpo.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Pesadelo unilateral, sonhos coletivos.

Um verso um momento,
a história de um movimento.

Espaço democrático,
que nome, satírico riso.
Aqui, não há.

Os extremos se enfrentam e se revelam
flor de cá bomba de lá,
uma pedra sozinha não faz verão,
mas para eles é tempestade,
É tempo de escuridão.

Os raios do sol não aceitam a fumaça,
driblam-na para encontrar meus olhos.
Essa fumaça e o sol, duas naturezas diferentes, não se dão,
Nada se pode ver luz em um cinza tão denso e sórdido.

Essa dor latejante e vermelha vem da borracha,
O corpo sentiu, caiu no asfalto de petróleo.

E o gás me dá mais sede.
Quero beber água e hidratar.
Para turgir o corpo e vencer a constricção
A opressão.

As lágrimas ardentes que espelham o sorriso cínico,
Misturam-se com as ardentes lágrimas de amor.
Baixe o seu escudo e toma esta rosa seu homem.

De um lado a liberdade, do outro também?
De um lado a força do outro também.

Correr as cegas esperando o próximo rojão,
esperando a bala e a pimenta na mão,
confuso só lhes restam o espaço, e as pernas.

E o que nos resta somos nós mesmos.

Viver o calor do fogo e passar a luz.
E os sonhos virão verdadeiros.
Verdadeira liberdade.
Unidade pela união.

São batalhas de todos os dias.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

sobre sinceridade


abrir o peito com faca de pão
cega
e sentir a dor da faca
com o tórax amolado.

do peito já aberto
extirpar o coração pela aorta
e degluti-lo
em uma só mordida.

agora a linguagem é pulsante
e a verdade,
que nunca existiu,
que nunca passou de uma invenção,
existe.

afaga o que era difuso
difusa o que era afago.

sente-se uma eloquência muda
percebe-se plenitude e leveza
na confusão

e tudo se explode
pra dentro.

enquanto isso,
o vento sopra sal
em orelhas doces.


sinceramente.

sábado, 6 de junho de 2009

faca


faço o que quero
muito mais que
eu quero que eu faça.