sábado, 25 de agosto de 2012

dance, sábado, dance


sábado é êxtase

borboletas de chumbo pairam
sobre os quartos
das moças que se vestem
na noite

uma volúpia
na montanha-russa abdominal
insiste em berrar
amor
amor
amor
e o vento nas ruas se eletriza
como sax em cópula
nos palcos das cabeças asfaltadas

os corações transitam
em ritmos ancestrais
e se intumescem, primitivos,
desejosos,
como prisioneiro arquitetando fuga
na madrugada veloz

enquanto
os tolos vendados
desligam suas anestesias privadas
e morrem
dentro de seus sonos febris,
uma garota à flor da pele
molha
em silêncio
sua calcinha na multidão

a bêbada e o equilibrista,
travestidos,
oferendam seus corpos
despencando suor
nas frestas mais insuspeitas
da cidade que rufa tambores atemporais

sábado é êxtase

o mercúrio
dos postes na noite
vibrando sinceridade em suas atmosferas
são intimidantes
e clamam por trôpegos rituais

só resta, imperativa,
uma palavra:
dance

domingo, 5 de agosto de 2012

rente



as articulações das esquinas
nas cidades
fazem pensar
sobre 
o suor das palmas das mãos
se enxugando
nas calças
no passo à passo
das ruas embebidas de sol

o som do helicóptero
da urbe
vibra ricochetes inodoros na derme

imagine só,
todas as sarjetas do mundo
drenando a lágrima
de todos os choros engolidos
e não chorados

as vistas enrijecidas
da miríade anônima de corpos urbanos
se contorcem no labirinto em êxtase 
das ruas moventes

as lágrimas se canalizam
nos esgotos insossos do absurdo

o pensamento 
é o artífice do absurdo,
na cidade inebriada
pela deglutição compulsiva de doses lacrimais,
as sarjetas orquestram as vidas
e
tudo que é caos
é corpo
tudo que é corpo
é real

não há realidade
na alma exagerada
das coisas do absurdo

a cidade é sonho

o corpo que nela adormece
morre a cada inspirada
mas se ergue pulsante
nas saraivadas silenciosas
do asfalto que tudo diz

da eloquente muralha
cartógrafa dos dias respirados,
nossos corações
são os tijolos

as paredes das casas pulsam
o sangue brota do chão