domingo, 30 de outubro de 2011

infame jogo de palavra


hoje passei o dia
alargando o meu talvez
fazendo dele, lentidão,
perenidade,
hoje o meu dia,
é sempre

sempre que talvez,
ardo só, deliro meus contragostos
abrindo as portas do caos
arrastando em minha mandíbula nervosa
a força de tudo o que não tenho controle

sou faca rasgando o ar
em intransitáveis desacordos

a lentidão do meu talvez
é tarda
é falha
ela é a tal
que fustiga sempre
o que não tem e nem terá vez

por isso não há muito o que compreender,
talvez
nós apenas perdemos a tal
vez

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

uma breve nota


se fosse possível
destrinchar em uma tempestade
alguma reminiscência de cor,
ela seria quase que imediatamente
um sabor
e antes que se conseguisse
viver o absurdo de tal paladar
tudo escorreria por entre os dedos
ficando apenas
a solitude
e as gotas da chuva
escorrendo no vidro da janela do quarto

sábado, 8 de outubro de 2011

mochila farta


invenção de um lugar
um hábito
habitual
des
habitar
me habituar ao
des
hábito
que horas são?
verbo dar-o-fora conjugado nos músculos
tensão
diz
tensão
nudez do tempo
diz
habitar

sábado, 1 de outubro de 2011

desentenda sim, então, não


restar grunhido no fim da noite
amanhecendo tardezinha perto da sombra
talvez meu corpo se desfaça
ou
seja tudo
mera questão de paraíso
um lugar para gritar
e as amarras fiquem estáticas
rasgadas
paradeiro dos ruídos
do caos
quero um paraíso
que seja ele próprio
meu grunhido selvagem
minha voz de animal espraiada no fim do dia
transe de mim para mim
coletivizando o prazer e a dor
vibrando o mundo aqui aqui ali em meu leito leite quente
sou chama de ardor controverso
querendo simplesmente
sorrir

não é pra entender
nem eu outro quer que se entenda
parto