terça-feira, 25 de janeiro de 2011
sobre as cartas de amor
sobre as cartas de amor
não enviadas
elas existem
e isso é um excesso que já é um tanto
guardadas,
nos cravam as unhas no estômago
escancarando portas nos pensamentos
sangrando as flores das declarações eternas
arrombam o mundo inteiro
com um suspiro solitário
amarrado numa doce canção qualquer
que ora
resvala a memória
em silêncio
tudo o que se enuncia ao acordar pelas manhãs
parece estar intumescido de todas,
todas as palavras-sensações guardadas
ali naqueles rascunhos não enviados
as palavras são perigosas
não foram feitas
pra se resguardarem
querem o tempo todo
se jogar no ar
explodir tudo ao redor
com aquela chuva cósmica apocalíptica
da cadência das frases
criando corpo
e avassalando tudo o que surge em sua frente
as palavras são ansiosas
querem sempre um abraço,
ou encontrar-se com algo
despertar tensões
aliviar corações
provocam, cutucam, mordem
não pedem licença,
estão sempre a salivar seu alvo
armadas para o bote certeiro
mas quando nossas paixões
vivem as chamas que estalam
na moradia de uma outra alma
que pulsa dentro profunda em nossos peitos,
(amor)
o corpo inteiro se embriaga
do mais intenso poder
e em um triste duelo
regado a hesitação de lágrimas
e solidão extremamente povoada,
desafia todo o exército de ousadia das palavras
e simplesmente
em um bravo ato de coragem
não envia a carta
por amor
sábado, 22 de janeiro de 2011
trupicão
andando
a passos curtos
pois a ousadia
anda
sorrateira
escondendo-se nas frestas
dos sentires
das esgarçadas paixões
nas frestas das dúvidas
talvez ainda
encontre essa ousadia
andando devagar,
divagando,
ou no pensamento
que vacila
que alucina
que se esquece de pisar
andando,
melhor seria
um tropeço
cair
as quedas revolucionam
a alma na janela do tempo
e borram as cores no ponto de vista
fica então
um ponto-borrado-ousado na vista
excitando as microexplosões
escondidas nos cantos dos passos
fez-se pois, o som
e tudo vai
rumo à queda:
quanta ousadia
terça-feira, 18 de janeiro de 2011
passa a bola!
a vida é uma
brincadeira
tão séria ela
que há até aqueles
que esquecem de brincar
crescem
e viram adultos
apenas
sábado, 15 de janeiro de 2011
só o amor
o corpo arde
a mente falha
o mundo palpita o calor dos poros
o amor chegou abrindo a porta
rasgando o tapete da sala
confundindo água com vinho
se embriagando discarado e nu
o amor arrancou os espinhos das rosas
furou todas as paredes do quarto
esperou escorrer dali o sumo da vida,
o sangue que faz os anjos pairarem no ar
o amor não sabe mais distingüir
as diferenças entre os sete pecados
a gula se travestiu de luxúria
só para sacanear nossos sexos na cama
palpitando vida umidade louca
num lindo gemido universal no escuro do quarto
o amor continuou abrindo a casa toda
queimou nossos corpos rente as janelas
experienciando densos voyeurs
transbordando caos e êxtase
para todos os olhares ansiosos por esse bruto drama
o amor deixou nossos corpos sem órgãos
livre fluxo fruto da mais pura selvageria
tudo é futuro tudo pode tudo devém
tudo virá transpirando tudo
e veio então o beijo
selando o púrpuro desejo fonte
afagando a ternura calorosa de nossos corações
até dormirmos em paz
eu aqui
você aí
juntos distantes
dançando amalgamados nos sonhos
desso nosso mais doce e belíssimo
horizonte
sexta-feira, 14 de janeiro de 2011
composição de tela inteira
precisava escrever algo
então resolvi vacilar as palavras
nos pensamentos
como maestro que orquestra sentimentos
escrevendo no ar a poesia
surpreendida quando se vê em música
esqueci do que é feito
o verso
apenas
fiquei ali
parado
sentindo o vento no corpo
e a folha de papel
alçou voo
música em branco
desenhando versos
na ponta da caneta
do mundo
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
como fruta madura caindo no pasto
meus mistérios
foram procurar um pasto
morar lá onde o dia é pra sempre
e o sempre é segredo, ou sagrado
matrimônio velado: meus mistérios de alma
e os segredos do sempre
meus mistérios ficam por aí
lavando louças cantando alto
andando nu pelas madrugadas
transmutando postes de luz em rimas rabiscadas nos pensamentos
enquanto olhares atentos da noite
se perdem na agilidade de meus calcanhares
pisando nas letras como samba disritmado
meus mistérios alargaram algumas palavras
e as colocaram em linhas tortas
defendendo causas
em prol dessas almas mortas
de sensações tão vivas
meus mistérios
estão aqui
nesses versos
ou em minha língua se afiando no canto da porta
sorvendo frestas onde só passa suave o feixe de luz
se pudesse,
a fresta de luz da porta no escuro do quarto
seria minha eterna alimentação imaginária
profusão de vitalidades sutis
irrigando corpo todo dessas nuances tão essenciais
pra vida inteira
lá no pasto meus mistérios fugiram
talvez tenham se cansado
de palavras vãs
ou
dos excessos despertados no ar
quando as palavras se arremessam no nada
e ganham força de tudo
pastar é meu grande mistério
talvez eu seja tudo
menos sério
terça-feira, 11 de janeiro de 2011
segredos
joguei minha cabeça no fundo da gaveta
cantei alto como nunca na vida
sempre quis musicar
o que fica aqui dentro
guardado
sábado, 8 de janeiro de 2011
pequenas belezas, ou sutilezas
*para ler escutando um girassol da cor do seu cabelo do lô no clube da esquina
e teve aquele dia
que você descobriu pela primeira vez que os girassóis
sempre estão a olhar para o sol
sabe,
às vezes essas sutilezas germinam vozes
dessas que saem de lá de dentro do mais inóspito pisar
na alma
voz visceral delirar,
com o coração pulsando firme na garganta
e como é lindo embriagar-se disso tudo
braços abertos ao pular das pontes só pra sentir o vento
sorrindo
as lembranças também estão sempre a olhar para o sol
e durante a noite elas vivem aquele denso pacto mudo de serem solitárias
mas eu sempre soube,
um girassol cabisbaixo esperando o dia raiar é pura vida
há potência ali abraçando o ar com as mais poderosas verdades
vociferando pro mundo tudo sobre o futuro
há que se prescrever pequenas belezas
os girassóis sabem disso
são nessas madrugadas
onde o dia ainda titubeia nas linhas das horas
e o pensamento vagueia inerte nos tictacs imaginários
é que está o segredo
do amor
o amor é sempre sozinho
alucinando paixão à dois
o amor é sempre à dois
apaixonando-se juntos numa simbiose nua
por verdades tão plenas logo ali no paraíso
que já escapam rápidas nas brechas do piscar os olhos
ah!
se não fosse a eternidade fugidia
desse intenso segundo antes do piscar (lá onde vive o sol)
ninguém amaria...
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