terça-feira, 29 de maio de 2012

sem nome, sem motivo



e nesse dia
onde poetar
a canção mal secreto
do salomão
na voz do macalé
pelos quatro cantos
de casa
sem sair
de casa
acabo
criando na perpendicularidade
chão-parede-teto
de casa
um massacre apocalíptico
rasgando sorrisos
na lâmina dos dentes
do caos
da carne
do corpo
de casa

massa ocre
no acre de meus pensamentos
massacre

ou

um desvario nu
com as pálpebras
pesando a janela aberta
até chover

quinta-feira, 17 de maio de 2012

linguagem fungo



pensei
pensei
pensei
pensei

mil palavras
na ponta
da língua
espumando
hesitação

pensei
pensei
pensei
pensei

minha língua
embolorou

terça-feira, 15 de maio de 2012

mangueio certo



essa vida,
coisa que nos
pega pelos olhos
e nos arranca da cama
estridentes como os raios
de sol da manhã

não deve ser levada
a sério

deve ser levada
como as moedas
trocadas
levadas no bolso

prontas para o que
der e vier
na veneta dos dias

dá-las
na padaria
para a última fornada do
pão-com-café-da-manhã
ou
para o crackeiro sem pão
da sola do pé quente
na brita do asfalto
que todos pisamos
e deixamos, inadvertidos,
caírem sempre
as moedas
do bolso

quarta-feira, 9 de maio de 2012

coisa remota



um coração
palpitando
ganancioso
no escuro
da fonte energética
da tv
defeituosa
junto às
velharias
da casa
acumulando

controle
remoto
ou
canal oniro-erótico
mal ajustado

quinta-feira, 3 de maio de 2012

doces fármacos



olhos cerrados

serragem
de um sonho
                    amadeirado

visto meu
                casaco

tiro abafada
                  a remela

do bolso

já enxergo melhor:

conjuntivite nas salas
dos pés
que pisam
                         tic
tac
tic
                         tac