domingo, 28 de dezembro de 2008

nadifica


Energia dos tempos
caiu estrondosa
perfurando por cima
um furo maior que eu.
A superfície de pressão
deveria esmagar
mas contrariou a física
e perfurou
inteiro.

Agora sou um furo,
não existo corporeamente
sou pra dentro,
do avesso
carne na parede do furo.
O que há de fora
é o que ainda vai cair lá dentro
um buraco cheio
de nada.

O nada preencheu o vazio,
e agora é tudo substância
há nada em mim
por todos os cantos.
Nesse buraco sem fim,
não há um espaço vago
o nada me inflou
pra dentro
pra baixo
e qualquer um pode cair em mim
e se afundar
sempre acompanhado de nada,
substancialmente nadificado.

Eu e nada
nos confundimos,
sou o nada
o nada me é
nos sorvirmos,
e somos brancos,
de luz.
Todas as cores
estatelaram-se pra dentro desse furo
(deu branco)
tudo se esmorecerá lá dentro
e o nada será tudo,
deixo de ser
e sou
me fundindo ao nada.
derretendo-me
incorporando-me
num fluxo de luz incessante.

Existo meu nada.

sábado, 27 de dezembro de 2008

Epistemologia


discutiam estética
a bossa e a fossa

a bossa,
coisa linda
deu de ombros
e, levemente,
sorriu.

a fossa,
coisificada
deu de cócoras
e, taciturna,
chorou.

nossa fossa
vossa bossa.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Enxarcado


Hoje chovi o dia todo.
No quintal,
o varal não tinha roupas
elas mofaram dentro da gaveta.

Realmente,
quem tá na chuva
é pra não mofar.


Chovi o mofo
engavetei o molhado,
me enxarquei
de roupas nuas.
Em pêlos,
me sequei.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Ser


Servir, sorver, sorvar,
ser.

Outros, botos.


semana passada esqueci
do poente rubro
e do olhar quebrado.
um olhar
rompido dos paradigmas
viciantes da morbidez.
esqueci de olhar e penetrar,
apenas olhei.

resolvi o problema (apenas por hoje, ou não):
joguei flores de peixe
numa mochila escaldante, e saí
ela me queimou
em direção ao estômago alheio.
ácidos gástricos
me caíram como lentes,
derretaram as retinas,
as rotinas.
enxerguei, penetrei,
dei braçadas em direção
a um paladar de alteridade
lambi com os olhos
e me vi imerso de outrém,
afogado de epiderme.
nadei em pé
com umidade, toques e cabeças.

mas ainda não tenho barbatanas
tive que virar rêmora
não de tubarões
mas de botos
roxos. também sou cor, fosca.