terça-feira, 13 de setembro de 2011

livre ensaio sobre o que é memória


cuspiram em um selo
o pregaram em minha memória
e a enviaram pra algum lugar inóspito, mas acima de tudo, um lugar úmido,
não me pergunte o nome de lá
esqueci ontem, amanhã invento outro,
mas a umidade era tamanha
que chegou a embaçar as vistas
tentaram limpar o pára-brisas mas o carro desgovernou
melhor parar e deitar, sentir o vapor quente
lá era difícil de escutar também
sem som de pássaros, de cigarras, dos uivos das matilhas
sabe como é, umidade demais, é mar
som do mar é a estática da mãe terra, silêncio ensurdecedor, pifa qualquer t.v.
e a memória submersa ali, pulsando a esmo
nessas selvas não há como evitar,
fica aquela atmosfera elétrica de caça/caçador
expectativa pura
um infinito antes, que nunca é depois
e ali era óbvio,
memória perdida assim é presa fácil,
tive que assumir a responsa
coloquei a cabeça de minha memória como prêmio de caça
um pandemônio sensitivo se instaurou
eram tantas sinapses transando umas com as outras
que até a carambola roubada do vizinho em 1998
ao cair no chão, já madura, ejaculou como nunca
orgasmo-nostálgico-psicodélico embriagando as crianças nas calçadas
aí por fim,
a caça virou caçadora, e ao invés de caçar, comer e se saciar,
minha memória não quis acabar com tudo aquilo,
deixou a fome se estocar até inflar cada porosidade neural
fazendo disso uma prática diária
a arte do não transbordamento de forças
sempre limiar, sempre borda, sempre abismo
nunca preenchimento e saciedade
força-pura força-bruta
e hoje meus jardins são assim
cultivo de memórias-afetações explosivas
para que sempre que algo me toque,
me
transe

terça-feira, 6 de setembro de 2011

espaçar


enterrar
um pensamento árido
nas veredas de um passo em vão
para no próximo passo
espaçar
um sentimento que
talvez por hesitação
talvez por consciente esquecimento
estava perdido nas densas matas soturnas
de um solitário cigarro na madrugada

e
em
silêncio
fez-se
luz