terça-feira, 23 de setembro de 2008

Sonhos

Dentro da opaca luz que tenta oprimir a sensação de estar a só, preferi desligar o interruptor e largar dessa opressão da luz artificial. No escuro somos mais sensíveis e sinceros, tanto com nós mesmos em nossos pensamentos quanto a dois no sexo. Desde criança me pergunto o porquê de tantos pensamentos em momentos de insônia no escuro do quarto. São pensamentos potencializados, mastodônticos, consoantes ao sonho. Neles eu sinto a linha tênue entre a vida desperta e o onírico mar em combustão. Na insônia, vez ou outra, tenho a sensação de um bom começo. Um começo pra nada em específico, sinto apenas algo que se inicia, leve e acalentador, que me explode rumo ao sono com uma felicidade que só pode ter vindo da união de todas as cores que formam o preto que meus olhos vendados enxergam, agora é tudo preto, é tudo colorido e a sincronicidade do sentimento de mundo deságua numa queda bruta de unidade catártica em meu movimento rápido dos olhos. Durmo.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Beba água.

Se quando imerso em novos rumos teus
perceberes evolução,
senta-te e tente chorar,
não dá.

Se os teus rumos tomarem nova posição,
senta-te e tente observar,
se chorar,
imerja-se novamente,
ainda não chegou o fim.

Quando antes do confronto,
decidires chorar,
segura-te e apóia-te,
mas não se sente, sinta.
Fecha-te os olhos,
mas não durma.

Se quando após o enfrentamento,
decidires gritar,
não grite, chore.
Pois já será hora de derramar-se e espalhar a agua contida.
Regar a terra e a ti mesmo: pela pele.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Camaru na janela, miles no quarto

Como bois zebu aqueles ecos ressoam no meu nariz, não pelo fato dos sons serem nasais, mas pelo fato de serem bois, se viessem de humanos seriam muito mais auditivos. Essas praias que emitem brasas cinzas nas tardes dessas madrugadas são no mínimo inesperadas. Sons provenientes da exposição agropecuária fora da janela versus sons do Bitches Brew tentam ver qual seria mais invasivo, um fisicamente, outro transcendentalmente. Dois pesos e duas medidas. Deixo o surrealismo e o experimentalismo conversarem entre si e não meto minha colher. Em briga de sentidos sou mais colorido.

Agora percebo o porquê do trompete. Ele conversa fluentemente a língua que é de forma muito precisa, o tanto de síncope necessária para a fome do fluxo de sensibilidades. Não entendo bem a circunstância do momento em que escuto o jazz, mas fico muito sereno quando percebo que não é necessário entender, pois ele assume minha capacidade de sentir e me deixa a par da hermenêutica. Ele.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Aqueles versos...

Ainda bem que logo ali atrás da parede mora a felicidade em diversos cheiros, pena que lá é grande e bagunçado. Outro dia escrevi um poema triste, ele veio denso, quente e escuro, mas agora já está morno, devo ter deixado muito tempo em cima da pia. As panelas estão sujas e o microondas está estragado, vou ter que servi-lo frio mesmo. Mexi um pouco com uma colher, ela era de metal e percebi que é boa condutora. Voltei a sentir a temperatura daqueles versos.

Perfumes

Cabeça profusão de idéias escusas
não entendo a voracidade da auto-destruição
nem tampouco a profundeza de um negro pensar
a chuva de imagens-sensações que passam dentro dessa capacidade de consciência,
são assustadoramente avassaladoras,
de tamanha força, que move o corpo a atingir um tal grau de latência
incompreensível para qualquer animal humano.

A carcaça de um ser puxado por uma consciência como essa
se move com aquele olhar estatelado e uma ausência não compreendida
pois não é ausência, e sim uma presença em não-locais taciturnos.
A capacidade de incorporar a solidão é extrema,
todos ao redor são de tamanha importância para essa vida
que a simples ausência física de tais pessoas
me promovem um mergulho.
Um Iceberg. Eu. Silêncio ensurdecedor. Noite. Frio.

Amo e odeio pessoas com uma intensidade
que só é explicada quando me vejo cercado delas
e quero sair.
Quando me vejo distante delas
e quero voltar.
Odeio escrever palavras obscuras,
elas quase fedem.

Mas qual será o cheiro das pessoas amanhã?
Acho que vou ter faro.