segunda-feira, 29 de novembro de 2010
suave pouso
os olhares
são todas as cores do mundo reunidas
implorando para serem pintadas
em telas que são
corpos, paisagens, pensamentos
pintam como comida quente cheirando a casa inteira
e o piscar
foi bela invenção da alma
para que nessas pinturas
nunca faltasse
nenhuma gota
de amor
quando pisca
o olho altera a relação tinta-tela
momento de hesitação catártica
como a criança correndo no parque
tão veloz
nem percebe o tropeço e a queda
só há o roxo da perna
e o suave acalanto dos pais
tão veloz que já dorme
e sonha
é naquele delicado instante de hesitação
antes da queda, quando se pisca
que amores se bordeam
e as cores se exaltam
o casal se despede
deixando um no outro
suas mãos
apenas com um olhar
eterno, imenso
indo embora
cada um para um lado
juntos no sem fim
a paisagem parece enfim desenhada
tudo é contemplação
um suspiro recheia o ar com leve admiração
alguém pisca
e as
cores se
trans
bordam
a tela
ganha
vida
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
coro
pescando conchas de pensamentos arremessados no espelho
o mar se abriu inteiro ali em frente
parecia até moisés abrindo o mar vermelho
mas era um espelho
e a tendência a vibrar indistintamente
mar
e espelho
só pode dar em música,
tão úmida ela
que já tem pretensão
a choro
de corpo todo rente à imagem especular
é lindo espetáculo esse oceano som
sorrindo ondas de arrebate infinito
um suor danado
salgando o choro na mesa do olho
e uns acordes mergulhados no ar
procurando coro
sábado, 20 de novembro de 2010
na lixeira
quando a fúria de um monstro me tomou por invisível
sumi
até hoje não me encontrei
rastros de sangue no ar
em viscosa rarefação
dão algumas pistas do paradeiro
abrem sensitivas portas
densas e de bruta atividade
contudo caminhos começam
a percorrer meu corpo
o difícil é respirar este ar
rarefeito sangue
mas respirar assim
tem sido trabalhar
um olhar tato nas coisas
nesse olhar,
perdi o monstro de vista
ou de vida
talvez ali ele me encontre
e daí eu me perco de vez
achando por fim
um outro
eu
ou
tro
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
cheiro quente de café nas manhãs
o dia passou o dia aqui
me transbordando de agoras
o anoitecer trouxe alguns ontens
costurei idéias no horizonte
como quem fixa pensamentos
em suavidades de lua toda força
luz prateada recheando o ar de eletricidade
o dia amanhacerá eus
os sóis das manhãs
e suas tendências
a me serem alma cheia
já me transbordam muitos amanhãs
tudo o que passa fica
nesse corpo que ora pretende
ser ele próprio estrada, ponte, construção
pego o volante e entorto a estrada
luz também faz curva
sábado, 6 de novembro de 2010
vez em quando
sou simples
a vida também
nós juntos
é que nos complicamos
muitos caminhos
até que se ache
um bem
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
poderia
correndo na chuva
coração em mãos
cigarro molhado na orelha tentando me fumar
acendi duas velas me abrigando em uma marquise
as pessoas passavam
até que um cachorro parou
e dançamos juntos como quem não se preocupa com nada
as velas se apagaram
e todos como num choque decisivo de compreensão imediata
dançaram uns com os outros
despiram-se todos os pecados do mundo
a chuva transbordava sensações quentes
canalizadas em todos os poros que ali se debatiam em frenesi
nossas animalidades:
na vida não há maior sinceridade
no cálido abraço entre nosso caos interno
e as tensões inocentes que nos pintam do lado de fora
somos mais vivos
mais primais até que os pêlos eriçados desse mundo cão
amanhã pela manhã
meu uivo vai se acasalar com os raios solares
filhos bichos de luz
nunca mais irão trabalhar
falam por aí sobre uma desumanização geral da vida
nos humanizemos então
mas que seja
sendo os mais densos animais gritando na chuva
lindas novidades
rasgarão o ar com cores impensadas
os bebês darão seus primeiros sorrisos
micro explosões de flores em nossos corações nos dirão algo
um som elegante de pele suada ficará no ar
e enfim
um silêncio
o silêncio
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