domingo, 29 de maio de 2011

rotinafagia


e nessa vida
lâmina que corta
tantas doces sutilezas
e insiste em extendê-las
nas mais densas e turvas
cordas bambas
que se ligam das tarefas
às tarifas

chego em casa
ligo um som
tiro a camisa e já sinto melhor
as várias vibrações explodindo
nessa espontânea
atmosfera do quarto sonoro

agora quem fala é a pele
as verdades se eclodem nas banalidades mudas
e ganham voz

vejo a cor do chão brincando com a poeira,
o texto parado sobre a mesa é mutante,
pois pro vento que o carrega com arquitetônica displicência
pouco importa seu conteúdo
e por isso decido estudar seu voo até o chão
junto ao vento que o abraça

o papel do texto
transando
no chão
com a poeira
e as cores brincando

belíssima captura de mim mesmo
ali
vivendo muito isso tudo

e simplesmente
aquele tanto de agoras
que haviam antes desse tudo
ficaram pra depois

e ninguém percebeu

domingo, 22 de maio de 2011

cabeça do chão do quarto


duas palavras brotaram
entre os azulejos do chão do quarto

vieram como selvagens no mato
uivando púrpuros desejos
tão íntimos
que no escuro do quarto
fez-se luz descabida
as pupilas se oscilaram caoticamente
vertiginosamente a noite abriu-se infinita
até que as janelas, fechadas, pareciam rasgadas-abertas
alguns voos
alguns outros tantos delírios
e essas palavras se substanciaram fogo

divina experimentação estética
uma fogueira de letras
no azulejo do quarto uivando poesias nada concretas

saí correndo gritando sorrisos,
fiz do mundo a vernissage amarelada de minhas dentições
mordendo pescoços desatentos no formigueiro das ruas
e o mundo parecia enfim me compreender

bastam duas palavras
duas palavras
palavras
bastam duas
dualidade eu-palavra no quarto brotando imensidão do chão
múltiplos de uivos
uni-vos lobos do mundo
em meu quarto
nesse minifesto
em duos mais que múltiplos perfeitos

uma poesia feita aos berros
quase em vão,
uma revo(a)lucinação

domingo, 8 de maio de 2011

dançarina


o corpo
vive por sempre pedir
uma
alimentação aeróbica de excessos
por isso
quando vozes ocultas
cantam a arte do êxtase em coro veloz
abrace selvagem
e lancinante
todo contraponto de fertilidade torta

sinta o copular vibrante da saliva transgressora
quebre as canelas de um mundo oco

há no mundo um vácuo
há no corpo um sopro
há aí um motivo
e há sobretudo, revolucionária
dança

fome que perfila andanças
sangra na fonte muda
a lindeza do caos, a lindeza da
mudança

dançarina pairando no infinito

sexta-feira, 6 de maio de 2011

e labor ação


campos entrecruzados
nas linhas dos pensamentos:
já é o primeiro passo

para o resto,
fica o verbo
asa