terça-feira, 9 de outubro de 2012

e aí?



I

as mordidas
cingidas no bordear
vertiginoso
do papel em branco
e suas delongas hesitantes

II

as veias
empertigadas de suor
irrigam agridoces espasmos
em solo estrangeiro:
a folha em branco é um abismo

III

a caneta é uma entidade cítrica
suas sinuosidades sísmicas
dançam violências inventadas

e no papel
datilografias incorpóreas
se decantam
em pólen tinteiro

IV

faltarão mãos
para tantos olhos

os dedos se desfocam
no firmamento
o papel é fonte descontínua
de palavras
clamando por deformidades

V

toda voz
na sorumbática transa
da madrugada
é um blues

VI

da cidade que tudo vê,
a fumaça do incenso no quarto
é o monólogo cítrico
da caneta
no tremor dos dedos

VII

só se escreve
o que se treme
há terremoto o suficiente
na lâmpada queimada

VIII

boa noite
também quer dizer
boa viagem

os pássaros nunca dormem

terça-feira, 2 de outubro de 2012

compostagem



abri o dicionário
procurando
simplicidade

tava lá escrito

sim.pli.ci.da.de sf. 1 criança é pura metafísica. 2 mariposa deu rasante. 3 húmus labial, fertilização neuronal. 4 só pode ser brincadeira.