sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Por um novo paradigma

No caminho de terra
mora o morro
a safra marrom
de compaixão, fonte.

No caminho de homem
mora o seio materno,
tenro, doce,
de leite morno.

No meio do povo
a unha cava o lodo,
a poeira que levanta o novo.

Tem que acreditar,
deixar de lado o limo,
por um paradigma em que
Eu sinto,e tão logo nós coexistimos.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

sim, a jambolada é isso.


sabe a ressaca do que não se bebeu? isso acontece quando ao invés de beber, se traga e se é tragado. tragar o quê?

sim.

há alguns finais de semana que abrem aquele rasgo da distorção espaço-barra-tempo e o que era grama vira lama, mas o que é mais impressionante é que a grama que cresce depois, cresce da cor dos olhos de quem a pisou. sim, foi assim que a grama que não existia na acrópole da jambolada cresceu hoje, da cor de sete mil olhos que disseram embevecidos, que sem música, não há ar.

essa teoria é antiga, tem gente que pensa que a música só consegue se ecoar pois o ar permite tal façanha com as vibrações e reverberações sonoras abraçando toda aquela lenga lenga de composição química que há no ar, mas isso não passa de um postulado rigidamente estabelecido e pouco questionado e discutido. o que acontece de fato, é que quando o big bang fez seu grande BANG, o ar foi obrigado a existir saindo com pressa de dentro daquela entidade em potência que era o tal estampido do baque sonoro primordial. e desde então respiramos o ar que existe graças a esse primeiro som. ar e som, som e ar...

antes do ovo e da galinha, há a dialética. portanto, escutamos e respiramos. sacou?

saquê!

e essa é a única história de casamento feliz que eu conheço até hoje, o ar e o som, dois hermafroditas que transam com tudo, nada de monogamia, amor-livre antes de 68 e com muito 69.

por isso esse fim de semana todos respiraram uníssonos, e o que era música tragou cada corpo ali presente, nos tossindo com uma leveza extra sensitiva e lançando-nos de volta para as próximas segundas-feiras que virão. e nós continuamos aqui tentando tragar tudo isso, com uma tosse que ainda não chega nem a ser pigarro, mas se situa na vibração da corda vocal de um brônquio (sim, eles cantam também, por isso tossimos). uma tosse que ainda não se sente, só existe, sem pretensões de se tossir. e isso já é muito mais que o suficiente.

apague a luz, feche os olhos, respire fundo e segure. se vc esteve na jambolada, com certeza escutará a luz dessa grama cor de olhos crescendo por lá com toda sua tosse...

sim, a jambolada é isso.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

São

O olho do furacão investe aos olhos de quem o vê,
ar com ar e velocidade, força.
centrifugação expansiva e contida,
etílico, sublima
no osso, assina
um lampejo de fúria, o desabafo.
os diques estremecerão, certamente.

O espirro do universo,
um simples grão,
aventurada escalada de uma legião,
no olho de quem vê este meu lindo nosso furacão.

sábado, 17 de outubro de 2009

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

memórias


agora febril
com a cabeça tateando
chamas no ar

amanhã ressaca
de um dia
que não aconteceu

mais vale a inércia
de uma sinapse inacabada
que a memória
do não vivido.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

traço incidental


sabe quando...

em uma extremidade
de um fio
uma formiguinha plenitude
grávida de apetite
puxa para si
no outro extremo do fio
uma humanidade doente
grávida de fome?

então...

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

sensativo

Yves Klein, "Salto no vazio" 1960

para bibi



acusaram-no de
desertor de si mesmo

mas antes de seu julgamento
evadiu-se vento

e tudo que era fato
invaginou-se tato

tudo
basta só
livre prender-se
em sensações.