quarta-feira, 27 de abril de 2011

nos dias sitiados


a sonororização
daquele baile de máscaras
lúdico e desenfreado
está estragada
ninguém mais consegue se enxergar
não há ouvidos nas paredes
a marcha dos dias vai rumo ao absurdo
e não há alguém que de fato
conheça tal lugar, é realmente absurdo,
e o que fazer?

hoje os corações das lástimas
sabem muito bem,
não há como arremessar tijolos
aos céus,
e mesmo se houvesse
tal possibilidade,
quem os alcançaria?

quando a profecia das horas seguintes
é eternizar a digestão das horas passadas
não há na pele resposta que conforta
não há pensamento, sentimento, lágrima ou grito (e há!)
mas há que se deixar de sentir lá dentro o outro
como quem o espia pela fechadura, a sós e em silêncio,
discreto, quase vaidoso,
deve-se abrir a porta
entrar na sala do peito que pulsa
e ir correndo

ser abraçado

domingo, 17 de abril de 2011

atletismo afetivo*


comecei a estudar a história dos tempos
baseada nos sulcos amarrotados
de meu lençol usado jogado no canto do quarto

na trama das verdades
que se enlaçam em terreno tão acidentado
descobri com um saciado sorriso
a origem das espécies

tudo a olho nu
despido das imagens habituais
que queimam as roupas velhas nos varais dos pensamentos
grandes sacações, reviravoltas e desfechos impensáveis
teciam os mais bárbaros acontecimentos

a origem das espécies,
um vórtice que bruscamente
captura todos nossos sentidos como relâmpago no ar
e está toda amparada
na difusão
do mais denso e substancial
cheiro
um simples e nada simples cheiro

há que se fazer história
pelo nariz
desbravar desertos e povoados que nos percorrem o corpo
com nômade
fluxo
ora ofegante
ora em profunda respiração
olho nu
olho cerrado
contração
relaxamento

atletismo afetivo

a origem das espécies
trocou de pele nos sulcos inquietos
do lençol usado
produzindo a cada intervalo entre os vários pensamentos
cheiros e cheiros jamais respirados

sítio arqueológico inventivo
no canto do quarto
na tecitura amassada de um lençol sujo
que cheira
as mais variadas
ins
pirações

e a vida ali
é efetuação
transborda no tempo
os mais simples gostos do
real



*atletismo afetivo, criação do mestre xamã não iniciado, antonin artaud

segunda-feira, 4 de abril de 2011

é vida real


logo ali na esquina da divagação
há um pensamento
musculoso, desfilando exuberante
por entre memórias, atualidades,
cheiros e outras alucinações

nas intensas festas das matizes abstratas
ele era rei

aí chegou a vida, forte e real
e com um leve sopro
o assassinou