segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Barros

Sem papel e sem palavras
tirou a consciência da mão
e a janta do pé
mas ficou dentro disso
a poça que estava no pé.
E a janta mofou
a consciência pesou
fora de si estou.

A poça do pé
o poço fundo
escuro, não se vê nada.
Lá embaixo o nada
imerso em barros,
Manoel me disse
pra não perder o nada
fui lá embaixo buscá-lo
pra ter algo importante.

Palavras em acordes
me dançaram
enlameado do poço
mofado da janta
as pessoas da sala

ao saírem,
me passaram o saleiro
e eu, claro,
mirei-o em nada.
Estava dançando no escuro,
com sal.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Perda

Aquela tarde úmida
foi o rebento da porta ansiosa
desesperada, à margem, aflita,
ela bateu.
O estrondo olhou pra todos,
todos olharam entre si, atônitos,
desconcerto
susto geral.
Uma reação:

cabisbaixos,
agiram como se nada tivesse acontecido.
Sem falar nada tudo havia ficado claro,
se sentiam uns merdas.

É de se entender,
a porta se fechou.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Desisti do mundo.

































brincadeirinha...

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Uma estrela

eletricidade musical aérea
sinapses até a ponta dos cabelos
tenho a permissão das palavras para me embriagar
de cores e liberdade
deitado na grama vejo melhor
estrelas róseas de nuvens escuras
as folhas das árvores me ventam para dentro
de dentro pra fora assobio o balançar da palmeira
alguém ao meu lado aponta o céu
é uma estrela
e ela aponta para seu reflexo lá em cima
as folhas ventam frios ruídos
mas ela me aquece, me conforta
meus braços nunca estiveram tão abertos
nunca estive tão serenamente aquecido.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Considerações profissionais...

"Faço um convite - talvez mesmo um apelo aos colegas: voltemos à verdadeira Psicologia que é genuinamente social no sentido de que deve ser compromissada primordialmente com o ser humano, com a sociedade e não com o capital. Será que não estaria na hora de buscarmos uma certa utopia, que significa aquilo que ainda não teve lugar... Mas que poderá vir a ser... Talvez esteja na hora de nós, psicólogos do trabalho, tomarmos o nosso lugar de defensores da saúde física e mental dos trabalhadores frente a uma estrutura social sufocante.

A proposta de uma vida cheia de sentido implica uma outra organização societária, em que o ato laboral seja uma ação saudável, ou melhor, um espaço de liberdade e criação, no qual a dignidade humana se torne efetivamente um valor a ser considerado."

- José Roberto Montes Heloani


"mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido"


- Charles Chaplin




quando crescer quero ser ninguém
ser um grande nada
nadar sem pressão atmosférica
galgar alcançar o vácuo
e sempre ter a sensação de vazio.
completude não completa.

vou viver de poesia
e a poesia sim,
vai transformar o vil metal
em gotas de pano
que pingam em meus olhos,
e me vendam para a vida privada
mas imputam cores macias
para deliciosas e imprevistas possibilidades.

vou ser um ser humano profissional
técnico do amor
especialista em minha amante
doutor em compartilhar risadas no escuro do quarto
phd em carinhos e carícias no monótono domingo.

quero ser uma pessoa em espiral
que sobe em círculos rumo a felicidade
a ovelha utópica desgarrada,
rasgada
que vai deixar de servir o servente
e mostrar que praias e temperos
não são nada sem o tato,
só o tato faz ver e sentir o gosto da vida.

o paladar. o mar.
uma pitada de sal.