segunda-feira, 25 de junho de 2012

língua dos deuses



fungos linguísticos
nos copos dos deuses
que se embebedam
com as palavras
que transam
línguas

as línguas do mundo
as línguas do absurdo

então as preces foram atendidas
postes de luz estão todos derrubados,
são clandestinos das calçadas
e
cacos de vidro no chão
não mentem suas lâmpadas

no escuro
só o que importa
é o silêncio que há
no miolo da palavra silêncio

já é noite nas palavras

dormentes dos sons,
as línguas sentem sono,
não falam mais,
lambem apenas

lambidas estrangeiras
na exclamação silenciosa de um olhar
que embriagado pelo amor,
ignora a existência
de todos os deuses

domingo, 3 de junho de 2012

é gozado



aí entrou pela porta
aquele imenso
ego
bradando todas
as intempéries do mundo

da porta aberta
uma ansiedade de possibilidades

melhor fechá-la

estávamos juntos agora
eu, o ego, todas aquelas roupas
e máscaras
deitados no chão
à luz de velas
eu de bruços
o ego rolando pra lá e pra cá

eu o olhava, aturdido

pode? nunca vi ego rolar assim
nas infâncias do chão

ele gritava muito
e eu só conseguia olhá-lo
calado, quieto

das crianças
que ainda haviam em mim
peguei uma bexiga
e a enchi até estourar

o estrondo febril dos passos de ontem
ecoaram consistências por todos os lados

a avalanche de passados
exaltou o ego
o encerrando em uma corda imaginária
no pescoço
rente ao parapeito inerte
da janela da cidade

dali então
uma rajada de vento
nos lembrou:
hoje é sol durante a noite

ego estelar
na dissolução identitária
de nossas vestimentas

somos adão e eva
trepando forte
e gozando juntos
como um pôr-do-sol
se enfiando em riste
no útero da terra
que se firma no horizonte

sexta-feira, 1 de junho de 2012

metrópole



as nuvens do céu
embolorando os corpos
dos animais sem face
que rastejavam nas calçadas
e
o teor de selvageria e unidade
do corpo coletivo
amálgama de bichos engravatados
se desfez
na acidez da chuva
que caía na metrópole

os bueiros ejaculam
divino lsd cósmico
na cabeça dos dias

cópula grupal abstrata

ninguém entendeu