domingo, 25 de novembro de 2012



não quero que
minha vida
faça sentido

quero
que 
dos sentidos
minha vida
faça
transas

transas várias

das transas
sem sentido,
furtivos
frutos dos
futuros me
bi
furcam
furos

caio neles
me emerjo cabeça-solo

eu superfície

não sou
profundo

terça-feira, 9 de outubro de 2012

e aí?



I

as mordidas
cingidas no bordear
vertiginoso
do papel em branco
e suas delongas hesitantes

II

as veias
empertigadas de suor
irrigam agridoces espasmos
em solo estrangeiro:
a folha em branco é um abismo

III

a caneta é uma entidade cítrica
suas sinuosidades sísmicas
dançam violências inventadas

e no papel
datilografias incorpóreas
se decantam
em pólen tinteiro

IV

faltarão mãos
para tantos olhos

os dedos se desfocam
no firmamento
o papel é fonte descontínua
de palavras
clamando por deformidades

V

toda voz
na sorumbática transa
da madrugada
é um blues

VI

da cidade que tudo vê,
a fumaça do incenso no quarto
é o monólogo cítrico
da caneta
no tremor dos dedos

VII

só se escreve
o que se treme
há terremoto o suficiente
na lâmpada queimada

VIII

boa noite
também quer dizer
boa viagem

os pássaros nunca dormem

terça-feira, 2 de outubro de 2012

compostagem



abri o dicionário
procurando
simplicidade

tava lá escrito

sim.pli.ci.da.de sf. 1 criança é pura metafísica. 2 mariposa deu rasante. 3 húmus labial, fertilização neuronal. 4 só pode ser brincadeira.

sábado, 25 de agosto de 2012

dance, sábado, dance


sábado é êxtase

borboletas de chumbo pairam
sobre os quartos
das moças que se vestem
na noite

uma volúpia
na montanha-russa abdominal
insiste em berrar
amor
amor
amor
e o vento nas ruas se eletriza
como sax em cópula
nos palcos das cabeças asfaltadas

os corações transitam
em ritmos ancestrais
e se intumescem, primitivos,
desejosos,
como prisioneiro arquitetando fuga
na madrugada veloz

enquanto
os tolos vendados
desligam suas anestesias privadas
e morrem
dentro de seus sonos febris,
uma garota à flor da pele
molha
em silêncio
sua calcinha na multidão

a bêbada e o equilibrista,
travestidos,
oferendam seus corpos
despencando suor
nas frestas mais insuspeitas
da cidade que rufa tambores atemporais

sábado é êxtase

o mercúrio
dos postes na noite
vibrando sinceridade em suas atmosferas
são intimidantes
e clamam por trôpegos rituais

só resta, imperativa,
uma palavra:
dance

domingo, 5 de agosto de 2012

rente



as articulações das esquinas
nas cidades
fazem pensar
sobre 
o suor das palmas das mãos
se enxugando
nas calças
no passo à passo
das ruas embebidas de sol

o som do helicóptero
da urbe
vibra ricochetes inodoros na derme

imagine só,
todas as sarjetas do mundo
drenando a lágrima
de todos os choros engolidos
e não chorados

as vistas enrijecidas
da miríade anônima de corpos urbanos
se contorcem no labirinto em êxtase 
das ruas moventes

as lágrimas se canalizam
nos esgotos insossos do absurdo

o pensamento 
é o artífice do absurdo,
na cidade inebriada
pela deglutição compulsiva de doses lacrimais,
as sarjetas orquestram as vidas
e
tudo que é caos
é corpo
tudo que é corpo
é real

não há realidade
na alma exagerada
das coisas do absurdo

a cidade é sonho

o corpo que nela adormece
morre a cada inspirada
mas se ergue pulsante
nas saraivadas silenciosas
do asfalto que tudo diz

da eloquente muralha
cartógrafa dos dias respirados,
nossos corações
são os tijolos

as paredes das casas pulsam
o sangue brota do chão

domingo, 15 de julho de 2012

memória lacrimal



sete passadas no chão arenoso
daquelas memórias de outrora

não há como perguntar
aos cadáveres
desgastados dos tempos
qual é a cor
moradora da casa do esquecimento

as articulações se movem em vão
os pensamentos se articulam como músculos em exercício
dão largas braçadas
mas nadam
nadam
nadam
e nada

o passado não foi em vão
o futuro não será em vão
será o presente, o vão entre eles?

essas brincadeiras com os tempos
e suas injeções de atualidades endovenosas
contaminam as naturezas mortas
e já não expõem
tantos esquecimentos assim
nas paredes dos museus

há um cheiro de fruta
apodrecendo na fruteira abandonada da casa
a cozinha que mora ali
é um órgão do corpo?
as memórias pré-cozidas
são passíveis de digestão?

qual é a palavra certa
para um excerto certo?

os excertos tatuados nos poros da pele
em devaneios
reminiscências
delírios
esquecimentos
ainda irão apalpar fogo no horizonte
passado presente futuro
se queimando no firmamento

cabeça
é coisa impalpável
é simulacro onírico
travestido de realidade
se prostituindo
nos asfaltos verticais desse corpo-mundo
vomitando prédios e janelas
nas facetas dos dias em branco

no prontuário das memórias do mundo
não há nada escrito
mas está tudo ali
e as traças o deixam carcomido
amarelado
antiguidade cheirando a guardado

esquecer-se
é jogar o prontuário em branco
no oco
dos arquivos mortos
que
resignados
não se ressuscitam

há uma lápide-mãe erguida imponente
na entrada do cemitério
nela,
alguns dizeres ilegíveis
talvez um delírio
quiçá um poema inacabado

de qualquer forma
é passado
e a memória lacrimal
insiste em vibrar
sem explicações
a intangível lembrança
carimbada na palavra
amor

sábado, 7 de julho de 2012

poema pelado



é possível apreender um sobressalto?
é possível mijar na quina do horizonte?
e o canibalismo dos rincões atléticos de nossas pernas?
--------------------------------------------------------------------------------fluem?

o apito do trem passante pode mesmo salvar uma vida?
a neblina das irrequietas ilhas estomacais, mexem mexas na anestesia capilar?

(percurso zombeteiro afetivo envenenando a íris da palma da mão)

a garganta que emudece nossos pensares, já arrotou fedores hoje?
um coração excitado pode vomitar sangue no tapete vermelho?
há no mundo línguas genitais?

um chute vulgar desponta pelado no seio da palavra nudez: peitos.

vale lembrar,
antes de ser preso,
o poema havia saído pelado pelas ruas

segunda-feira, 2 de julho de 2012

ad aeternum



arrastam os céus ad aeternum no inferno dos dias

dias e dias
e o asfalto quente evapora ratos pelos bueiros

caminhos se confundem
as cabeças da urbe estão caducas
cabelos grisalhos almejam a calvície inocente
dos recém-nascidos

do cabelo que não é meu, só vislumbro fantasias

há falta de roupas no cabedal do silêncio
há cheiro de comida putrefata nas sarjetas
há um temor desconhecido arrastando inertes corpos de uma porta à outra

uma luta dos músculos se irrompe nas veias dos prédios

ninguém nunca entendeu os argumentos do cinza no abstrato:
névoa de concreto pelas manhãs

os juízes interromperam a luta
penduraram as chuteiras
nas nuvens que anoiteciam de cinza
o verde daquela tarde
e foram embora
eternizando o cinza
em uma burocrática lápide de cimento

mas mesmo assim
as crianças insurgem lucidez na esquizofrenia dos dias

seus passos sorriem no gramado,
sorriem a limpidez dos timbres da despretensão

seus castelos invisíveis beijam, libertários,
o futuro escondido sob as asas do tempo

o pôr-do-sol vibrará vento nos cabelos
já consigo sorrir
infantil

segunda-feira, 25 de junho de 2012

língua dos deuses



fungos linguísticos
nos copos dos deuses
que se embebedam
com as palavras
que transam
línguas

as línguas do mundo
as línguas do absurdo

então as preces foram atendidas
postes de luz estão todos derrubados,
são clandestinos das calçadas
e
cacos de vidro no chão
não mentem suas lâmpadas

no escuro
só o que importa
é o silêncio que há
no miolo da palavra silêncio

já é noite nas palavras

dormentes dos sons,
as línguas sentem sono,
não falam mais,
lambem apenas

lambidas estrangeiras
na exclamação silenciosa de um olhar
que embriagado pelo amor,
ignora a existência
de todos os deuses

domingo, 3 de junho de 2012

é gozado



aí entrou pela porta
aquele imenso
ego
bradando todas
as intempéries do mundo

da porta aberta
uma ansiedade de possibilidades

melhor fechá-la

estávamos juntos agora
eu, o ego, todas aquelas roupas
e máscaras
deitados no chão
à luz de velas
eu de bruços
o ego rolando pra lá e pra cá

eu o olhava, aturdido

pode? nunca vi ego rolar assim
nas infâncias do chão

ele gritava muito
e eu só conseguia olhá-lo
calado, quieto

das crianças
que ainda haviam em mim
peguei uma bexiga
e a enchi até estourar

o estrondo febril dos passos de ontem
ecoaram consistências por todos os lados

a avalanche de passados
exaltou o ego
o encerrando em uma corda imaginária
no pescoço
rente ao parapeito inerte
da janela da cidade

dali então
uma rajada de vento
nos lembrou:
hoje é sol durante a noite

ego estelar
na dissolução identitária
de nossas vestimentas

somos adão e eva
trepando forte
e gozando juntos
como um pôr-do-sol
se enfiando em riste
no útero da terra
que se firma no horizonte

sexta-feira, 1 de junho de 2012

metrópole



as nuvens do céu
embolorando os corpos
dos animais sem face
que rastejavam nas calçadas
e
o teor de selvageria e unidade
do corpo coletivo
amálgama de bichos engravatados
se desfez
na acidez da chuva
que caía na metrópole

os bueiros ejaculam
divino lsd cósmico
na cabeça dos dias

cópula grupal abstrata

ninguém entendeu

terça-feira, 29 de maio de 2012

sem nome, sem motivo



e nesse dia
onde poetar
a canção mal secreto
do salomão
na voz do macalé
pelos quatro cantos
de casa
sem sair
de casa
acabo
criando na perpendicularidade
chão-parede-teto
de casa
um massacre apocalíptico
rasgando sorrisos
na lâmina dos dentes
do caos
da carne
do corpo
de casa

massa ocre
no acre de meus pensamentos
massacre

ou

um desvario nu
com as pálpebras
pesando a janela aberta
até chover

quinta-feira, 17 de maio de 2012

linguagem fungo



pensei
pensei
pensei
pensei

mil palavras
na ponta
da língua
espumando
hesitação

pensei
pensei
pensei
pensei

minha língua
embolorou

terça-feira, 15 de maio de 2012

mangueio certo



essa vida,
coisa que nos
pega pelos olhos
e nos arranca da cama
estridentes como os raios
de sol da manhã

não deve ser levada
a sério

deve ser levada
como as moedas
trocadas
levadas no bolso

prontas para o que
der e vier
na veneta dos dias

dá-las
na padaria
para a última fornada do
pão-com-café-da-manhã
ou
para o crackeiro sem pão
da sola do pé quente
na brita do asfalto
que todos pisamos
e deixamos, inadvertidos,
caírem sempre
as moedas
do bolso

quarta-feira, 9 de maio de 2012

coisa remota



um coração
palpitando
ganancioso
no escuro
da fonte energética
da tv
defeituosa
junto às
velharias
da casa
acumulando

controle
remoto
ou
canal oniro-erótico
mal ajustado

quinta-feira, 3 de maio de 2012

doces fármacos



olhos cerrados

serragem
de um sonho
                    amadeirado

visto meu
                casaco

tiro abafada
                  a remela

do bolso

já enxergo melhor:

conjuntivite nas salas
dos pés
que pisam
                         tic
tac
tic
                         tac

quarta-feira, 18 de abril de 2012

não vai dar certo acordar todo dia às seis apenas para alinhar os botões


todo dia
se aumenta
a certeza,
cheiro do asfalto
nos ombros
cheira surdez
no peso
das
palavras

há que se
alargar intervalos
de tempo
até que
reste apenas
uníssona pausa

estampido por
vir

silêncio no alarido das vozes
dos padres nossos de cada dia

os muros pichados serão a ordem

restará
grunhidos estáticos
deuses sem som

terça-feira, 10 de abril de 2012

dinamite


singularidade torta:
um pelo encravado na sola do pé

não era mesmo pra isso existir

mas as fabulações
conspiram novos prédios
nas cidades
que mofam as paredes dos quartos

e quebram suas vidraças

pisou em cacos e fugiu
e os pelos encravados sangrando vidro
nos mármores frios
do bolso vazio da calça

as moedas caem futuros
e os pés não aguentam,
alucinam pelos que se encravam

inflamação latejando as dobras do mundo

o pus amarela frágeis horizontes
desses dias desadaptados

fugiram todos para a ilha de manhattan
procurar drummond

mas foi o pelo encravado
que se dinamitou

sexta-feira, 6 de abril de 2012

quando os padres assumiram seus cadáveres


assalto na vertigem do olho
o projétil voa certeiro
em direção ao alvo mirado

dois pássaras caem vivos
no horizonte

finitude às avessas

os alaridos do coração
ecoam na paisagem que se descongela
ante a janela aberta das sensações

utensílios urbanos
não nos servem mais

as janelas
esgarçam a carne vibrátil do tempo

transgressão dos ponteiros
nas torres das catedrais
que caem raios
nas calçadas

nossos padres não querem mais estar vivos

terça-feira, 27 de março de 2012

da cidade que há em todos


sibilos do amor
nas orelhas desafinadas desse mundo

a nuca transpira a métrica das ruas

na cidade
arborescência turva e decadente,
amor e caos
transando sementes
em todas as cabeças afoitas

não há onde, nem depois,
caminhos rabiscam desatinos
o amor está na brita do asfalto
se retesando na borracha
dos pneus
que
anti-insólitos
passam

paladar morto como confete no ar
e todos caminham quando se abre o sinal

o amor na cidade
bate sempre na nuca

a testa se esfola no chão

veias e vasos sanguíneos abstratos
nos povoam em plena avenida

os viadutos escancarando
perversas aortas
de promiscuidade chula

rente à fachada da loja
o vendedor não viu

o semáforo ficou verde
animais carniceiros não perdoam nunca

no asfalto,
uma orelha atropelada

sibilos do amor

domingo, 25 de março de 2012

indissociação


a saliva contida
se constrange na parede

virou lágrima

(rosto-rubor)

o vermelho
pirou

virou sangue

sexta-feira, 23 de março de 2012

Livre Fluxo Fruto - O lançamento
























Enfim, chega o momento em que o filho nasce e vai pro mundo. Segue a programação:

‎-> 30/03 às 14:30
Tarde de café e mesa de encontros com a temática "Poesia, corpo, caos e loucura"
Participação de: Diogo Rezende, Jonas Samúdio, Danislau Também e Órfilo Fraga (Filó)
Local: Anfiteatro 2A (UFU - Umuarama)

-> 30/03 às 19:00
Vernissage de lançamento
Local: Casa da cultura, Praça Coronel Carneiro, 89, bairro Fundinho.

->30/03 às 22:00
Sarau de poesias e intervenções artísticas
Local: Casa verde, Rua Johen Carneiro - 06, bairro Tabajaras.
Apresentação da Banda Tram-Panumbras

Incentivo: Lei de incentivo a cultura de uberlândia



terça-feira, 13 de março de 2012


posso tropeçar
à vontade
se
olho para o chão
como quem se enamora
pelos céus

sábado, 10 de março de 2012

armado até os dentes


todo dia é dia

quão inacreditável é a fome que dá
quando o eterno se traveste de comparsa
e nos tornamos juntos, ladrões do absurdo

roubamos até a voz rouca
dos muros que sangram cinzentos
nessas cidades que com gozo, tanto deliramos

todo dia é dia, certo?
durmo sempre boquiaberto
não escapo incólume deles

dentição inteira de braços abertos às verdades ocultas

os dentes não mentem nunca
o que a vida adestra,
eles mordem até a morte

durante o sono,
os dentes são legiões vorazes transbordando sangue nos olhos
desbravando asfaltos rotos, pântanos tolos, pastos de homens cegos e nus

mordidas endemoniadas
rasgam toda essa merda de servidão consentida

minhas paisagens
nunca mais foram as mesmas
sinto nas gengivas
o suor da árdua labuta noturna

escorro junto
soturno
todo dia
é dia

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

eco penso


alucinou-se:

avistou
um corpo que deambula distante
em instantâneo pasto-verde-úmido

cheiro de grama, sabe?

déjà vu de mim para eu-outro
num futuro próximo
de insones suspiros

todos que pastam, pó

mera poeira vaga
divagando ócio

sou à toa
com destreza
não perdoo nenhum pensamento
jogo todos no lixo

pirações recicláveis
ou
a fantástica fábrica de desenhos animados e suas cabeças oníricas

eco-poetude

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

lençol e só


atmosfera
pululante
de
caos, desvarios, amor, hesitação

imagine só

aí colocou os pés descalços
na brita molhada

as meias estavam guardadas no bolso da calça
efeito tátil de cautelas esquecidas

quando não há cautela
e o mundo conspira xamanismos urbanos,
as mãos gesticulam amor louco

suor audacioso na madrugada

as causas de outrora
não pesam mais que a dança sutil
da fumaça que subverte sublime
o ar

(densidade inapreensível)

travessia desvairada
no aconchego da nuca
e seus cheiros insones
ou
sereno da noite no lençol,
tecido que de tão taciturno,
engravida o próprio
sono
solitário e só

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

lentidão, ou um piscar de olhos


crio animais divagados
no vão dos pensamentos
são ruidosos, porém, estanques

estancados
no asfalto que trilha
a pele de meus braços
que ora
caminham vendados

caminho pelos braços
se esgueirando no ar
os dedos, sinapses,
ou engrenagens de fazer sentir

aí teve aquele dia,
curva na direção das nuvens que me choveriam

e em plena performance de meus gestos insones
não pude mais chover

os canteiros em minha pele
já invadem o asfalto
inventando-se ansiosas ervas daninhas que se esparramam
buscando vidas, outras roupas, novos reais, umidade, sorrisos
e talvez até
água

agora
coço as costas em mesa de bar e esqueço de falar
ou olho pros olhos de alguém que fala
e só vejo os olhos
me perco nas palavras
danço estático
na tessitura sutil de alguns nadas
que me percorrem e se perdem em tudo

meu olhar
é como um animal
no asfalto
está nu
basta olhar