domingo, 3 de fevereiro de 2013

travessia


há qualquer coisa de sagrado
nessa minúcia escorrida
da poesia deixada no chão
ao lado da cama

essa poesia
não precisa ser lida

coloco um bom som

há anéis de saturno
contornando minhas vísceras,
cada uma com suas sutilezas íntimas
estômago, intestino, pâncreas, rins
a pele e os pelos
viscerais
tudo víscera
víscera nos olhos
víscera no suor-liame-corpo-lençol-colchão
víscera nas paredes do quarto

paredes do quarto:
compositoras ágeis desse meu segredo vegetal

devemos seguir atentos
o segredo vegetal está impresso na carne
e ninguém nunca vai se desvencilhar disso

os anéis de saturno das minhas vísceras
escorrem pulsáteis poesias
no livro que ora repousa fechado
no chão
no canto da cama

jamais abrirei este livro

coloco um bom som
tiro a camisa
os anéis de saturno começam a se acoplar por aí
encontro divindades adormecidas
os sóis já emanam alma em meu estômago
identidades se distorcem,
a atmosfera toda
é uma carne

a atmosfera é uma carne

a
atmosfera
é
uma
carne