quarta-feira, 23 de setembro de 2009

meu ovo tântrico

Tarsila do Amaral, "O Ovo ou Urutu"


nunca esquecerei o dia em que botei meu ovo tântrico. a princípio, ele era o princípio, antes nada principiava potência, só havia possibilidades, e essas não eram lá tão impossíveis. o ovo trouxe o impossível e isso é o que importa.

a princípio ele era o princípio, e ficou ali envolto de liqüido amniótico espalhado pelo chão. meu corpo não esperava um ovo, mas ouvi de fonte genital segura que a origem era tântrica. a memória nos prega peças, o transe tântrico não me dava certeza de nada, só de tudo, por isso nada se lembrava, só se acoplava e isso já era o suficiente. nada como o movimento. como o nada em movimento. deglutir o nada para criar seu filho, o ovo.

e ele o tempo todo tantra, em partos tão sinceros que qualquer corpo parecia pouco, parecia parco, parvo. exalava intensidades para todos os lados, sem nenhum viés, acasalando-se com tudo para dialogar com nada. tantra é antes, tudo que tantra devém. o ovo tantra para o excesso ideal, aquele excesso tão procurado e nunca achado por sempre se perder no exagero.

tive que levá-lo até uma árvore próxima para que ela o chocasse, afinal vegetais sabem caminhar com o vento, e o ser humano se suicidou com ponteiros encravados nos pulsos. mas ao chegar lá ficou claro, chocá-lo seria ultrajante, a árvore argumentou tudo extaticamente: para o ovo, tudo de êxtase, nada de ênfase.

sem ênfase alguma, o ovo se tornou sua própria casca extasiando-se tantra para todos os lados, pois a princípio, ele era o princípio. e isso é o que importa.




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