domingo, 22 de maio de 2011

cabeça do chão do quarto


duas palavras brotaram
entre os azulejos do chão do quarto

vieram como selvagens no mato
uivando púrpuros desejos
tão íntimos
que no escuro do quarto
fez-se luz descabida
as pupilas se oscilaram caoticamente
vertiginosamente a noite abriu-se infinita
até que as janelas, fechadas, pareciam rasgadas-abertas
alguns voos
alguns outros tantos delírios
e essas palavras se substanciaram fogo

divina experimentação estética
uma fogueira de letras
no azulejo do quarto uivando poesias nada concretas

saí correndo gritando sorrisos,
fiz do mundo a vernissage amarelada de minhas dentições
mordendo pescoços desatentos no formigueiro das ruas
e o mundo parecia enfim me compreender

bastam duas palavras
duas palavras
palavras
bastam duas
dualidade eu-palavra no quarto brotando imensidão do chão
múltiplos de uivos
uni-vos lobos do mundo
em meu quarto
nesse minifesto
em duos mais que múltiplos perfeitos

uma poesia feita aos berros
quase em vão,
uma revo(a)lucinação

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