quinta-feira, 4 de novembro de 2010
poderia
correndo na chuva
coração em mãos
cigarro molhado na orelha tentando me fumar
acendi duas velas me abrigando em uma marquise
as pessoas passavam
até que um cachorro parou
e dançamos juntos como quem não se preocupa com nada
as velas se apagaram
e todos como num choque decisivo de compreensão imediata
dançaram uns com os outros
despiram-se todos os pecados do mundo
a chuva transbordava sensações quentes
canalizadas em todos os poros que ali se debatiam em frenesi
nossas animalidades:
na vida não há maior sinceridade
no cálido abraço entre nosso caos interno
e as tensões inocentes que nos pintam do lado de fora
somos mais vivos
mais primais até que os pêlos eriçados desse mundo cão
amanhã pela manhã
meu uivo vai se acasalar com os raios solares
filhos bichos de luz
nunca mais irão trabalhar
falam por aí sobre uma desumanização geral da vida
nos humanizemos então
mas que seja
sendo os mais densos animais gritando na chuva
lindas novidades
rasgarão o ar com cores impensadas
os bebês darão seus primeiros sorrisos
micro explosões de flores em nossos corações nos dirão algo
um som elegante de pele suada ficará no ar
e enfim
um silêncio
o silêncio
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