domingo, 3 de junho de 2012

é gozado



aí entrou pela porta
aquele imenso
ego
bradando todas
as intempéries do mundo

da porta aberta
uma ansiedade de possibilidades

melhor fechá-la

estávamos juntos agora
eu, o ego, todas aquelas roupas
e máscaras
deitados no chão
à luz de velas
eu de bruços
o ego rolando pra lá e pra cá

eu o olhava, aturdido

pode? nunca vi ego rolar assim
nas infâncias do chão

ele gritava muito
e eu só conseguia olhá-lo
calado, quieto

das crianças
que ainda haviam em mim
peguei uma bexiga
e a enchi até estourar

o estrondo febril dos passos de ontem
ecoaram consistências por todos os lados

a avalanche de passados
exaltou o ego
o encerrando em uma corda imaginária
no pescoço
rente ao parapeito inerte
da janela da cidade

dali então
uma rajada de vento
nos lembrou:
hoje é sol durante a noite

ego estelar
na dissolução identitária
de nossas vestimentas

somos adão e eva
trepando forte
e gozando juntos
como um pôr-do-sol
se enfiando em riste
no útero da terra
que se firma no horizonte

Um comentário:

Velharia disse...

Gostei demais do seu livro. Oh livre forte e bom. Obrigado por ter escrito.