quinta-feira, 14 de outubro de 2010
poesia cuspe
um pé descalço no chute do destino
e o mundo nunca mais será o mesmo
duas alavancas tortas feitas de vontades mortas
e a vida sempre será uma icógnita
ah, mas eu não falo de mim
falo de você e do mundo e do absurdo
sempre que reparo no som da tv desligada
corro rápido pro quarto
abro um livro, cuspo lá dentro e fecho
o último eu joguei pela janela
e matei duas pessoas mortas
tenho essa vocação a coveiro pentelho
desde que meu coração matou Poe
não consigo deixar os mortos em paz
buscaram meu cuspe nas esquinas mais insuspeitas
e o que acharam foram livros já mofados
com cheiro de fruta podre mordida
fui eu quem mordi
e desde então, o mundo nunca mais saiu de mim
fica aqui grudado lapidando meus sonhos
com energia eólica dos deuses
com duas pedradas na pele grossa do impossível
engravidei as virgens de mim mesmo
agora meus filhos dançam em torpor
nas filas imaginárias dos ônibus nossos de cada dia
são contraventores hábeis,
cospem sempre pra cima
nunca viram nada de grave
na laminação ativa da gravidade
os cuspes dos meus filhos já alcançam o teto
e eu me sinto lá
estalactite viva
soprando doces terrorismos poéticos
nas orelhas pretas de brita
que tanto pisamos tateando futuros
as poesias
coçam nossas dúvidas jogadas e anestesiadas na sarjeta
depois saem
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