aí entrou pela porta
aquele imenso
ego
bradando todas
as intempéries do mundo
da porta aberta
uma ansiedade de possibilidades
melhor fechá-la
estávamos juntos agora
eu, o ego, todas aquelas roupas
e máscaras
deitados no chão
à luz de velas
à luz de velas
eu de bruços
o ego rolando pra lá e pra cá
eu o olhava, aturdido
pode? nunca vi ego rolar assim
nas infâncias do chão
ele gritava muito
ele gritava muito
e eu só conseguia olhá-lo
calado, quieto
das crianças
que ainda haviam em mim
peguei uma bexiga
e a enchi até estourar
o estrondo febril dos passos de ontem
ecoaram consistências por todos os lados
a avalanche de passados
exaltou o ego
o encerrando em uma corda imaginária
no pescoço
no pescoço
rente ao parapeito inerte
da janela da cidade
dali então
uma rajada de vento
nos lembrou:
hoje é sol durante a noite
ego estelar
na dissolução identitária
de nossas vestimentas
somos adão e eva
trepando forte
e gozando juntos
como um pôr-do-sol
se enfiando em riste
no útero da terra
que se firma no horizonte
Um comentário:
Gostei demais do seu livro. Oh livre forte e bom. Obrigado por ter escrito.
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